Pular para o conteúdo principal

2020: o ano...

Oi, bom dia! Nossa reunião está confirmada?
_Está sim, o link está no convite!
_Vai ser por qual plataforma?
_Pela mesma que usamos da última vez.
_Ok! Já vou entrar!

***

_ Não estou te ouvindo.
_ (digitando) Não sei o que houve. Não te ouço.
_(digitando) Sai e entra de novo.
_ Agora sim. Você me ouve?
_ Sim, estou te ouvindo.
_ Espera, parece que travou.
_ E agora?
_ Agora melhorou.
_ A fulana mandou mensagem que vai atrasar. Acabou a energia no bairro dela.
_ E a internet móvel esses dias está difícil, né?!
_ A minha wifi também está ruim, só não pode chover.
_ Como que está a pandemia aí? Em qual onda vocês estão?
_ Eu nem sei mais.... está tudo tão confuso...

E assim vamos sobrevivendo ao ano de 2020. Eu já disse que não gosto muito do termo "novo normal", mas estava refletindo esses dias e cheguei à conclusão que o menos pior desse contexto é a vida digital. Saindo da janela do computador e olhando a vida pela janela das nossas casas vejo o quanto a vida lá fora está desesperadora.

Não há fadiga virtual, falta de abraços e nem saudades das pessoas queridas que faça mais mal à saúde mental do que a vida real desse 2020. A culpa não é do ano, mas infelizmente, ele vai levar esse estigma: o ano da pandemia.

O ano de tantas mortes
De tanto desemprego
De eleições municipais à moda antiga
De queimadas fora do comum
De "professor é vagabundo e não quer trabalhar"
De estupro culposo
De "não há indícios de racismo"

O ano em que um vírus descortinou a doença das nossas almas.

Eu já tive vários estados mentais, físicos e emocionais neste 2020, porque o que parece normal hoje me assusta muito.

Não que eu esteja vendo só o lado ruim. Eu sou muito grata a tanta coisa boa que me aconteceu e que eu ajudei a realizar neste ano. Vejo muita gente exercendo tolerância, empatia e solidariedade e isso é um verdadeiro respiro em meio a tantas coisas que nos fazem perder o ar.

Mas não dá pra ignorar.

A vontade, às vezes, é de ficar no eterno sai e entra de links, no liga e desliga microfone. Nas telas, pelo menos, alguém te avisa que você está tentando ser ouvido e não consegue, quando você perde a conexão, quando você chega e sai. 

Já o mundo aqui fora... esse sim parece que está travado!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sobre nos dar conta do que realmente importa!

Este texto não é e nem tem pretensão de ser uma resenha (quem sabe uma singela homenagem), mas uma reflexão provocada por uma pequena grande obra. "O pequeno vendedor de chicletes: e outros contos sem fadas", da minha amiga e brilhante escritora Aline Caixeta é daqueles livros que trata do que realmente importa: nossa humanidade. Nessa coletânea, a autora conta - a seu modo, mesclando, como ela mesma diz, cores, nosso povo e nossa cultura - contos clássicos de Hans Christian Andersen. Para ela, e para mim também, a literatura é, além de um direito, uma forma de compartilhar o que há de mais humano em nós. Conheci a obra como um projeto, um desejo, uma vontade. Minha amizade com a autora surgiu pelo encontro que trabalhar com projetos sociais e culturais nos proporcionou. Tantas trocas nos fizeram perceber que, mesmo com muitas diferenças, tínhamos valores muito parecidos e, desde então, seguimos juntas pela vida, em uma relação que "ultrapassa os limites da linguagem...

É preciso limpar as lentes!

 Se você, assim como eu, usa óculos - de grau ou de sol (eu uso os dois) - sabe que há uma verdade óbvia, inexorável e pouco lembrada pelos usuários desse objeto: é preciso limpar as lentes! Se você, assim como eu, usa óculos, deve estar pensando que é uma grande bobagem que eu comece um texto dizendo isso, já que é evidente que é preciso limpar as lentes. Mas, se você, assim como eu, usa óculos, sabe bem que, por muitas vezes - e por muito tempo - a gente não o faz. E o bizarro disso tudo é que o que era para nos ajudar a enxergar melhor, acaba por nos atrapalhar ao estarem sujas. No meu caso, às vezes é melhor não usar óculos do que usar sem limpar as lentes. E, para completar a estranheza, por muitas vezes somos alertados de que precisamos limpar as lentes não por nossa dificuldade de enxergar, mas por outras pessoas que veem e comentam. Se é tão básico assim limpar as lentes, por que não fazemos? Porque nos acostumamos com o que vemos. E, acostumados, passamos a não reparar que...

Controle: quando ele virou o rei da casa (e da vida)?

Já tem bastante tempo que quero escrever esse texto. Vários que foram escritos nos últimos tempos "furaram a fila". É que o tema é muito complexo (na verdade, desafiador!) e esses a gente vai deixando de molho, mesmo que o blog exista justamente para me ajudar a pensar. Controverso, não?! Há alguns anos eu estava dando uma aula de comunicação para meus queridos jovens e estávamos interpretando um charge cujo tema era a influência das mudanças tecnológicas no nosso comportamento e na nossa saúde. Aí, pra dar um exemplo, eu contei para eles como era a vida antes do controle remoto. Lembro que fiquei perplexa quando me contaram que já temos aplicativos para controle remoto no celular. Se você nasceu nos anos 2000 nunca deve ter parado para pensar nisso, mas existia vida antes do controle remoto. Me lembro bem da primeira vez que tive contato com um - e com certeza não foi na minha casa. Naquele época, controle remoto era artigo de luxo. Exatamente por isso, lembro com clareza do...