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Os domingos nunca mais serão os mesmos...

Quando alguém que a gente ama se vai, na verdade, nada mais é como era antes! As coisas mudam dentro. As coisas mudam fora. E mesmo que a gente se acostume com a ausência e prefira lembrar das coisas boas, nunca mais nossa vida será a mesma!

Mas os domingos! Ah, os domingos! Nos últimos anos os meus domingos eram, na verdade, nossos domingos. É como se o dia sagrado da semana fosse ainda mais sagrado porque neles, mais que em qualquer outro dia, a prioridade era nós.

Eu continuo e continuarei indo à missa aos domingos de manhã. Até porque sempre fiz isso, mesmo quando não era meu dever te levar. Mas, nunca mais as missas dos domingos de manhã serão as mesmas. Não ter que me arrumar correndo para chegar na igreja meia hora antes porque você fazia questão, me faz dormir mais, isso é fato, mas só eu e Deus sabemos o quanto eu preferiria aquela cara de bravo no portão porque eu estava atrasada! Nem as missas são mais as mesmas. Não há um ofertório que eu não abra um leve sorriso ao lembrar de você, persistente e teimoso, levantando e andando com muito esforço para se fazer participar.

Os cafés da manhã de domingo nunca mais serão os mesmos. Aquela caneca que te dei  -"O melhor avô do mundo", não a toa em um dia dos pais - nunca mais será enchida com leite com sal (coisa mais esquisita) e entregue nas suas mãos frágeis com tanto amor e carinho. Mãos frágeis que foram fortes uma vida inteira de trabalho e de honestidade.

Ouvir as modas de viola do programa matinal não tem a mesma graça sem você. Com quem comentar sobre as músicas, as melodias, os ritmos e as piadas bobas do apresentador? Mas, sabe, essa é a parte do domingo que escolhi manter. Te sinto tão perto de mim, talvez porque a música fosse nossa forma de comunicação mais genuína.

E os almoços! Ah, esses sim! Nunca mais serão os mesmos! Os churrascos, as modas de viola, as cervejas, os pasteis, os queijos com azeitona. Confesso que ainda fazemos isso, mas o fato de ninguém comentar sua ausência parece que a deixa ainda maior.

Agora, tem uma coisa que ainda não consegui fazer. Já são mais de 08 meses e ainda não assisti ao Roda a Roda. Esse é demais pra mim. Acho que talvez porque fosse o momento em que eu via em seus olhos e seu sorriso a sua admiração por mim. 

Eu sempre quis ser admirada por você! Acho que mais admirada do que amada. Eu sempre quis que alguém que eu admiro tanto me admirasse também.  A admiração é um sentimento muito nobre e, vindo de alguém como você, uma dádiva que ganhei na vida.

Você faz e continuará fazendo falta. Meus domingos nunca mais serão os mesmos. E, nostálgica como sou, às vezes me perco em um apego querendo que as coisas voltassem, mas elas não voltam.

Os domingos nunca mais serão os mesmos e é com lágrimas nos olhos que eu escrevo isso. 

Os domingos nunca mais serão os mesmos e nem eu, porque seu legado me faz querer ser uma pessoa sempre melhor e me admirar como você faria.


Dedico ao meu avô Alfredo.
Achei justo ter um texto pra ele aqui,
já que foi pra lidar com a dor da perda dele
que eu voltei a escrever.
Grande homem, que eu tenho o privilégio
de ter como vô.



Comentários

  1. Maravilhoso!!!!
    Como faz falta, "o vein".
    Orgulho desse ser humano incrível!
    Que texto mana...de aplaudir com os olhos!
    Parabéns 🙏👋

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